Cantor Roberto Leal reencontra-se neste trabalho com as suas raízes transmontanas
Francisco Pinto
O cantor luso-brasileiro Roberto Leal canta pela primeira vez em mirandês. O artista pode ser ouvido em " O canto da terra", um disco que se encontra em fase final de lançamento e distribuição. Espera-se que seja apresentado no Casino Estoril, faltando apenas marcar a data da gala, que vai incluir gastronomia transmontana, apoiado pela Rota do Azeite. A edição inclui cinco faixas interpretadas na segunda língua oficial de Portugal.A "lhéngua" está presente nos temas tradicionais "Nós tenemos muitos nabos", "Sinhá senhora", "Ching lind din", "La molinera" e "La çarandilheira". Além destas, o álbum contém sete músicas em português.
Na pesquisa musical e tradução das letras, o artista contou com a colaboração de Amadeu Ferreira, escritor e estudioso do mirandês, e ainda do grupo de música tradicional Galandum Galundaina, além de outros músicos como Mário Estanislau ou Victor Félix.Falantes e estudiosos do mirandês aguardam com expectativa o lançamento do disco, por considerarem que a escolha de Roberto Leal em cantar em mirandês pode ser um veículo de promoção de uma língua rural centenária, que sobreviveu através da oralidade e que vai despertando a curiosidade de muita gente.
" Vai haver curiosidade por parte das pessoas em escutar o Roberto Leal. Ao mesmo tempo, o disco vai despertar a vontade além-fronteiras em conhecer o mirandês, já que o cantor é conhecido em vários países europeus e no Brasil", observa Duarte Martins, professor de língua mirandesa."Ao ouvirmos uma melodia com que nos identificamos, ficamos sempre com vontade de saber a língua que está por de trás e, neste caso, o cantor fez um boa aposta, já que vai despertar a curiosidade para a língua mirandesa", refere, por sua vez, Marina João, falante de língua.
"Um mergulho em mim"
" 'O canto da terra' foi um reencontro maior com as minhas raízes, um mergulho final em mim mesmo. Depois da busca das tradições da minha terra, nasceu o disco", refere o cantor ao JN, acrescentando que neste trabalho estão "memórias que foram guardadas pela vida fora, dos tempos em que pensava que falava uma língua rude".
Aos 12 anos, Roberto Leal partiu para o Brasil, à procura de melhores condições de vida. Ainda em adolescente, e sem o compreender, foi alvo de chacota por causa da sua pronúncia, como o próprio recorda quando dizia 'txabe' em vez de 'chave', achava, como muitos transmontanos de então, que trocar o "V" pelo "B" era ignorância.Amadeu Ferreira, um dos mais conceituados escritores e estudiosos da "lhéngua", garante que Roberto Leal agarrou este trabalho com seriedade e empenho. Acrescenta que daqui pode sair uma viragem no estilo a que o cantor tem habituado os seus ouvintes.Roberto Leal nasceu na localidade de Vale da Porca, concelho de Macedo de Cavaleiros, com o nome de António Joaquim Fernandes, tendo imigrado para o Brasil em 1962, juntamente com os pais e dez irmãos. Estudou música e canto e, em 1971, iniciou a sua carreira, com a canção "Arrebita", adoptando em definitivo o nome artístico de Roberto Leal.Em 1972 ganhou o prémio Rei da Juventude Brasileira, do Velho Guerreiro, e o importante Troféu Globo de Ouro, entre outros.A partir de então, iniciou a contagem de 30 discos de ouro e cinco disco de platina, entre os mais de 500 troféus que figuram na sua colecção particular.
No Brasil há ainda uma série de projectos musicais, alguns de músicos conceituados, que se inspiraram na música do artista luso-brasileiro, como são os casos de Secos e Molhados, Ney Matogrosso, os desaparecidos Mamonas Assassinas e o Padre Marcello Rossi, como até canções da música sertaneja actual.No entanto, em 1989 Roberto Leal resolveu passar mais tempo da sua vida em Portugal, fazendo fechar o círculo das suas influências musicais resgatando a sonoridade das aldeias da sua infância.
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